4.ª Companhia de Caçadores Especiais - 4 CCE
Angola, 1960-1962


Pedra Verde - Quibaba

Operação de reconhecimento
armado à Pedra Verde,
de 26 a 31 de Julho de 1961


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Fotos (c) Luís P. Boléo, 1967

via Panoramio.com



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"CIOE/CTOE
Operações Especiais - 50 anos
"
por (Alf.) Helder da Silva Serrão

Editado por Edições Esgotadas
1. ª Edição, Lamego, 2011
Depósito Legal: PT-329187/11

ISBN 978-989-8502-00-1
Tipografia Voz de Lamego Lda.

302 págs















 
REGISTO ÁUDIO
Reportagem original, da época, da Rádio Clube Moçambique / Emissora Nacional das "4 Horas do Inferno de Quibaba" (operação de reconhecimento armado à Pedra Verde, de 26 a 31 de Julho de 1961) - com registos sonoros dos intensos combates que tiveram lugar e da intervenção dos militares da 4CCE envolvidos. Duração total de aproximadamente 18 minutos.


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Créditos originais (1961):     
Trabalho de campo: Artur Peres e Óscar Machado     
Sonoplastia: Rogério de Vasconcelos e Américo Rebordão Correia   

Créditos pós-produção (2009):      
Conversão e tratamento formatos digitais: Pedro Mateus






" O EMPENHAMENTO OPERACIONAL DAS CCaçEsp
MAJOR NA REFORMA LUÍS ARTUR CARVALHO TEIXEIRA DE MORAIS

Publicado como Anexo n.º 8 em "CIOE/CTOE Operações Especiais - 50 anos"
por (Alf.) Helder da Silva Serrão, Editado por Edições Esgotadas, 1. ª Edição, Lamego, 2011

(...) Algumas observações pertinentes, consideradas convenientes para melhor ser compreendida a gravação.

Após a eclosão da insurreição (terrorismo) em Angola no dia 15 de Março de 1961 começaram a chegar aquele território nacional várias unidades militares, entre as quais, em Junho desse ano, os Batalhões de Caçadores comandos pelo TCor Oliveira Rodrigues [ Batalhão Caçadores n.º 114 ] e TCor Maçanita [ Batalhão Caçadores n.º 96 ].

A estes dois batalhões foram dadas a missão de conquistar e ocupar Nambuango onde se encontravam concentradas grandes forças de sublevados.

Foram constituídas três colunas com esse fim: a primeira, sob o comando do Tcor Oliveira Rodrigues com o itinerário mas curto Luanda -Caxito -Quicabo - Nambuangongo, veio encontrar forte resistência, sobretudo no rio Lifune. A segunda, sob o comando TCor Maçanita com o itinerário mais longo,envolvente pela direita Luanda-Úcua - Quibaxe - Cambamba -Nambuangongo, acabou por ser a primeira a chegar ao objectivo. A terceira constituída por uma força de cavalaria com base no esquadrão de reconhecimento de Luanda e Auto-Metralhadoras, com o itinerário envolvente pela esquerda. pelo litoral, Luanda -Ambriz -Zala -Nambuangongo, foi retardado pelos inúmeros abalizes encontrados.

Quando a Batalhão de Caçadores do TCor Maçanita chegou à Úcua, teve informações de que na região da Pedra Verde, ali perto, se encontravam concentradas fortes forças inimigas. Comunicada a informação superiormente, recebeu ordens para reconhecer a região, mas todas as tentativas para o fazer foram repelidas por fogo intenso de espingardas e metralhadoras de um inimigo que diziam ser possuidor de rádios ligados com oexterior. Como até aí os sublevados apenas se haviam apresentado armados de catanas e "canhangulos'', as informações foram postas em dúvida, até porque se tratava de uma unidade recentemente chegada em Angola.

Para esclarecer a situação decidiu o comando da região mandar a 4ª CCaçEsp, que nessa altura era a unidade mais experiente que tinha, reconhecer aquela região e deu ordens ao Batalhão de Caçadores para prosseguir o avanço sobre Nambuangongo.

1. No dia 25 de Julho de 1960 [1961] fui chamado ao QG [Quartel General] quando procedíamos à recepção e distribuição das primeiras espingardas automáticas chegadas em Angola, as FNs e ali recebi a missão de proceder ao reconhecimento armado da Pedra Verde, com o reforço de dois pelotões Indígenas do RIL [Regimento de Infantaria de Luanda] e recomendação de dar conhecimento da missão à companhia apenas na Úcua. Como a companhia teve de sair de Luanda na manhã do dia seguinte, apenas tivemos tempo de conhecer muito à pressa superficialmente o seu funcionamento e de as irmos experimentar com alguns tiros na carreira de tiro reduzida do RIL. Agrande experimentação iria ser feita ao real dois dias depois.

2. Ainda no QG fui apresentado a cinco jornalistas que ali haviam ido pedir autorização para acompanhar uma unidade em operações, e que sabendo ter-me sido acabada de dar uma missão, solicitaram-me, desde logo, permissão para me acompanhar, que tive de dar.Tratavam-se dos jornalistas Magalhães Monteiro da Rádio Clube de Moçambique, Artur Peres e Óscar Machado da Emissora Oficial de Angola, Xarula de Azevedo do Jornal Comércio de Luanda e António Maria Zorra de Moçambique.

3. Como conhecia um pouco da região da Pedra Verde, por ter já patrulhado e saber tratar-se de uma zona de cultura de café há já algum tempo abandona[da] e por issocom muitas plantas entrecruzadas a impedir a qualquer progressão fora das picadas, pedi um reforço de trabalhadores Bailundos munidos de catanas, para em caso de necessidade, nos abrirem ca­minhos fora das picadas e que nos foram cedidos pelo dono de uma das fazendas locais da Úcua, com um capataz europeu que nos ia servir de guia, o qual veio a ser ferido e morrer já na Úcua (é o ferido que se ouve na gravação a ser socorrido pelo médico da companhia).

4. A coluna saiu de Luanda na manhã do dia 26 de Julho echegou na tarde desse dia à Úcua, onde, por curiosidade, se encontrava um Batalhão de Caçadores [ n.º 137 ] comandado pelo TCor Henriques da Silva que havia sido comandante do CIOE, quando ali recebemos instrução (1960).

5. Na gravação pode-se ouvir distintamente os disparos espaçados das espingardas inimigas e das suas metralhadoras de cadência lenta, a contrastar com as nossas armas automáticas FNs de cadência muito rápida e silvo característico.

6. De notar em especial a impecável disciplina de fogo da companhia, só consegui[d]a por a uma tropa muito experiente: tiros do inimigo, silêncio absoluto para o inimigo ser localizado e concentração do fogo sobre os objectivos localizados . Imediato alto ao fogo á minha ordem. Por mais e melhor que uma unidade seja instruída e treinada, e a nossa estava, só com muita experiência tudo isso se consegue no real.

7. Naquela situação a nossa progressão só podia ser feita frontal e a descoberto ao longo da picada e por isso difícil, perigosa e lenta. Em contrapartida sentíamo-nos observados e visados por todos os lados.

8. A situação começou a agravar-se quando ao fim de três horas e meia de combate nos apercebemos de que as nossas dotações individuais de munições se encontravam esgotadas e o inimigo nos procurava cercar.

9. Munições para as nossas armas, na altura, só havia em Luanda . Procuramos então retirar para Úcua mas encontramos a retirada cortada. Valeu-nos então o TCor Henriques da Silva, que atento à nossa situação deu ordens às peças 8,8 [Obus 88 mm QF 25 Pdr Mk 2 m/43/46 ] de Artilharia [ 3.º Pelotão da Bataria de Artilharia n.º 147 ] para fazerem fogo "directo" sobre o inimigo. Nesse momento já não sabíamos de onde nos vinha o maior perigo, se do inimigo, se das granadas amigas. Mas conseguimos chegar à Úcua.


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Obuses 88 mm QF 25 Pdr Mk 2 m/43/46 do 3.º Pelotão da Bat.ª de Artilharia N.º 147
em acção na Pedra Verde ( fotos circa 28 a 31 de Julho de 1961 )

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"Guião" da Bat.ª de Artilharia N.º 147
Conteúdos da BART 147 gentilmente cedidos por Albano Mendes de Matos para uso no site da 4CCE

10. Cumprida a missão e avaliada ali a força do inimigo, inédita até aí e mesmo posteriormente,visto até essa data não havermos encontrado um inimigo tão fortemente armado, nem nos ter constado que tal tivesse acontecido depois, nesses primeiros anos de guerra em Angola (mas a prova ficou gravada) a 4ª CCaçEsp foi mandada regressar a Luanda para outra importante e urgente missão.

11. A missão de conquistar e" limpar" a região da Pedra Verde ["Operação Esmeralda"] foi dada mais tarde ao Batalhão de Caçadores [ Batalhão de Caçadores Especiais n.º 261 ] comando pelo TCor Prego, reforçado com uma Companhia de Paras, Artilharia e Auto-Metralhadoras, apoiado pela aviação. No entanto toda essa força foi repelida pelo inimigo no primeiro dia [ 10 de Setembro de 1961 ] em que o tentaram e com importantes baixas. Depois destas forças se reorganizarem, à segunda tentativa, feita dias depois, estranhamente chegaram à própria Pedra Verde, um monte rochoso coberto de vegetação, sem encontrar qualquer resistência [ 16 de Setembro de 1961 ]. As forças inimigas ali existentes , que segundo constou continha elementos estrangeiros, haviam retirado e abandonado a região.

12. Segundo informações recebidas posteriormente, resultantes de interrogatórios a prisioneiros feitos mais tarde, o inimigo, durante a acção da 4ª CCaçEsp, havia sofrido pesadíssimas baixas, calculadas em centenas de mortos.

Esta acção da 4ª CCaçEsp, que ficou por sorte gravada, como prova, foi sem dúvida um dos mais duros combates de toda a guerra de Angola, senão mesmo o mais duro: três horas e meias de fogo intenso face ao inimigo bem armado de espingardas e metralhadoras. (...)

5 de Setembro de 2005
Luís Artur Carvalho Teixeira de Morais
Major na Reforma  (...)"



FOTOS "NOTÍCIA!"
Reportagem com reconstituição fotográfica publicada a 19 de Agosto de 1961 no magazine "Notícia !"


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Foto sem legenda incluída >>
Capa do magazine "Notícia !"
publicado em Luanda, 19 de Agosto de 1961

Legenda original:
"A patrulha militar pronta a entrar em acção (momentos antes), comandada por um alferes. O tipo de mata cerrada, propícia e emboscadas está bem patente na fotografia."



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Foto sem legenda incluída >>

Legenda original:
"O ataque presentido começa, e os homens tomam imediatamente posições atirando-se de qualquer forma para o chão . A emboscada foi preparada e executada pelos dois lados da estrada e por isso torna-se mais perigosa."

Legenda original:
"Os soldados têm dificuldade em divisar o inimigo devido à natureza da mata. No entanto, cada um sabe a tarefa que lhe compete e isso é a razão da categoria desta tropa."



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Foto sem legenda incluída >>
Legenda original:
"No momento mais apertado do ataque. O fotógrafo, muito naturalmente, sente o efeito e transmite-o à fotografia."

Legenda original:
"Quem há pouco tempo transitava nas «estradas» do Norte, talvez nunca tenha imaginado esta cena."



Excerto do som gravado durante os violentos confrontos no decurso da operação
- o intenso e dramático som de armas automáticas e de fogo "cerrado".
Duração de 13 seg / 136 KBytes em formato WAV .



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Foto sem legenda incluída >>

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Foto sem legenda incluída >>

Legenda original:
"Os emboscados começam a sentir o efeito do pronto contra-ataque e a intensidade do fogo reduz-se um pouco, permitindo uma busca de melhores posições."

Legenda original:
"Os tiros cessam por completo. No entanto os soldados permanecem ainda uns momentos alerta: o capim é traiçoeiro e é necessário muito cuidado antes se penetrar na mata."



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Foto sem legenda incluída >>

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Legenda original:
"No final da luta procede-se ao balanço: um ferido grave e alguns arranhões sem consequências de maior. A briosa tropa está pronta para nova acção"

 


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"Notícia !", Luanda, 19 de Agosto de 1961 Créditos da capa e fotos da publicação no "Notícia !"
Fotógrafo: João Cabral, C.I.T.A.




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