4.ª Companhia de Caçadores
Especiais - 4 CCE Angola, 1960-1962 Pedra Verde - Quibaba |
|||||||||||||||||||||||||||||
|
|||||||||||||||||||||||||||||
Operação de reconhecimento armado à Pedra Verde, de 26 a 31 de Julho de 1961 Fotos (c) Luís P. Boléo, 1967 via Panoramio.com
"CIOE/CTOE |
REGISTO ÁUDIO
Reportagem original, da época, da Rádio Clube Moçambique / Emissora Nacional das "4 Horas do Inferno de Quibaba" (operação de reconhecimento armado à Pedra Verde, de 26 a 31 de Julho de 1961) - com registos sonoros dos intensos combates que tiveram lugar e da intervenção dos militares da 4CCE envolvidos. Duração total de aproximadamente 18 minutos.
Créditos originais (1961): Trabalho de campo: Artur Peres e Óscar Machado Sonoplastia: Rogério de Vasconcelos e Américo Rebordão Correia Créditos pós-produção (2009): Conversão e tratamento formatos digitais: Pedro Mateus
"
O EMPENHAMENTO OPERACIONAL DAS CCaçEsp
Publicado
como Anexo n.º 8 em "CIOE/CTOE Operações Especiais - 50 anos"
(...)
Algumas observações
pertinentes, consideradas convenientes para melhor ser compreendida a
gravação.
Após a eclosão da insurreição (terrorismo) em Angola no dia 15 de Março
de 1961 começaram a chegar aquele território nacional várias unidades
militares, entre as quais, em Junho desse ano, os Batalhões de Caçadores
comandos pelo TCor Oliveira Rodrigues
[ Batalhão Caçadores n.º 114 ]
e TCor Maçanita
[ Batalhão Caçadores n.º 96 ]. A
estes dois batalhões foram dadas a missão de conquistar e ocupar
Nambuango onde se encontravam concentradas grandes forças de sublevados.
Foram constituídas três colunas com esse fim: a primeira, sob o comando
do Tcor Oliveira Rodrigues com o itinerário mas curto Luanda -Caxito
-Quicabo - Nambuangongo, veio encontrar forte resistência, sobretudo no
rio Lifune. A segunda, sob o comando TCor Maçanita com o itinerário mais
longo,envolvente pela direita Luanda-Úcua - Quibaxe - Cambamba
-Nambuangongo, acabou por ser a primeira a chegar ao objectivo. A
terceira constituída por uma força de cavalaria com base no esquadrão de
reconhecimento de Luanda e Auto-Metralhadoras, com o itinerário
envolvente pela esquerda. pelo litoral, Luanda -Ambriz -Zala
-Nambuangongo, foi retardado pelos inúmeros abalizes encontrados.
Quando a Batalhão de Caçadores do TCor Maçanita chegou à Úcua, teve
informações de que na região da Pedra Verde, ali perto, se encontravam
concentradas fortes forças inimigas. Comunicada a informação
superiormente, recebeu ordens para reconhecer a região, mas todas as
tentativas para o fazer foram repelidas por fogo intenso de espingardas
e metralhadoras de um inimigo que diziam ser possuidor de rádios ligados
com oexterior. Como até aí os sublevados apenas se haviam apresentado
armados de catanas e "canhangulos'', as informações foram postas em
dúvida, até porque se tratava de uma unidade recentemente chegada em
Angola.
Para esclarecer a situação decidiu o comando da região mandar a 4ª
CCaçEsp, que nessa altura era a unidade mais experiente que tinha,
reconhecer aquela região e deu ordens ao Batalhão de Caçadores para
prosseguir o avanço sobre Nambuangongo. 1.
No dia 25 de Julho de 1960
[1961] fui chamado ao QG [Quartel General] quando
procedíamos à recepção
e
distribuição das primeiras espingardas
automáticas chegadas em Angola, as FNs e ali recebi a missão de proceder
ao reconhecimento armado da Pedra Verde, com o reforço de dois pelotões
Indígenas do RIL [Regimento de Infantaria de Luanda] e recomendação de
dar conhecimento da missão à companhia apenas na Úcua. Como a companhia
teve de sair de Luanda na manhã do dia seguinte, apenas tivemos tempo de
conhecer muito à pressa superficialmente o seu funcionamento e de as
irmos experimentar com alguns tiros na carreira de tiro reduzida do RIL.
Agrande experimentação iria ser feita ao real dois dias depois. 2.
Ainda no QG fui apresentado a cinco
jornalistas que ali haviam ido pedir
autorização para acompanhar uma unidade em operações, e que sabendo
ter-me sido acabada de dar uma missão, solicitaram-me, desde logo,
permissão para me acompanhar, que tive de dar.Tratavam-se dos
jornalistas Magalhães Monteiro da Rádio Clube de Moçambique, Artur Peres
e Óscar Machado da Emissora Oficial de Angola, Xarula de Azevedo do
Jornal Comércio de Luanda e António Maria Zorra de Moçambique. 3.
Como conhecia um pouco da região da Pedra Verde, por ter já patrulhado e
saber tratar-se de uma zona de cultura de café há já algum tempo
abandona[da] e por issocom muitas plantas entrecruzadas a impedir a
qualquer progressão fora das picadas, pedi um reforço de trabalhadores
Bailundos munidos de catanas, para em caso de necessidade, nos abrirem
caminhos fora das picadas e que nos foram cedidos pelo dono de uma das
fazendas locais da Úcua, com um capataz europeu que nos ia servir de
guia, o qual veio a ser ferido e morrer já na Úcua (é o ferido que se
ouve na gravação a ser socorrido pelo médico da companhia). 4.
A
coluna saiu de
Luanda na manhã do
dia 26 de Julho echegou na tarde desse dia à Úcua, onde, por
curiosidade, se encontrava um Batalhão de Caçadores
[ n.º 137 ] comandado pelo TCor
Henriques da Silva que havia sido comandante do CIOE, quando ali
recebemos instrução (1960). 5.
Na gravação pode-se ouvir distintamente os disparos espaçados das
espingardas inimigas e das suas metralhadoras de cadência lenta, a
contrastar com as nossas armas automáticas FNs de cadência muito rápida
e silvo característico. 6.
De notar em especial a impecável disciplina de fogo da companhia, só
consegui[d]a por a uma tropa muito experiente: tiros do inimigo,
silêncio absoluto para o inimigo ser localizado e concentração do fogo
sobre os objectivos localizados . Imediato alto ao fogo á minha ordem.
Por mais e melhor que uma unidade seja instruída e treinada, e a nossa
estava, só com muita experiência tudo isso se consegue no real. 7.
Naquela situação a nossa progressão só podia ser feita frontal e a
descoberto ao longo da picada e por isso difícil, perigosa e lenta. Em
contrapartida sentíamo-nos observados e visados por todos os lados. 8.
A situação começou a agravar-se quando ao fim de três horas e meia de
combate nos apercebemos de que as nossas dotações individuais de
munições se encontravam esgotadas e o inimigo nos procurava cercar.
9. Munições para as nossas armas, na altura, só havia em Luanda .
Procuramos então retirar para Úcua mas encontramos a retirada cortada.
Valeu-nos então o TCor Henriques da Silva, que atento à nossa situação
deu ordens às peças 8,8
[Obus 88 mm QF 25 Pdr Mk 2 m/43/46 ]
de Artilharia
[ 3.º Pelotão da Bataria de
Artilharia n.º 147 ] para fazerem fogo "directo" sobre o inimigo. Nesse momento já não
sabíamos de onde nos vinha o maior perigo, se do inimigo, se das
granadas amigas. Mas conseguimos chegar à Úcua
"Guião" da Bat.ª de Artilharia N.º 147 Conteúdos da BART 147 gentilmente cedidos por Albano Mendes de Matos para uso no site da 4CCE
10. Cumprida a missão e avaliada ali a força do inimigo, inédita até aí
e mesmo posteriormente,visto até essa data não havermos encontrado um
inimigo tão fortemente armado, nem nos ter constado que tal tivesse
acontecido depois, nesses primeiros anos de guerra em Angola (mas a
prova ficou gravada) a 4ª CCaçEsp foi mandada regressar a Luanda para
outra importante e urgente missão.
11. A
missão de conquistar e"
limpar" a região da Pedra Verde
["Operação Esmeralda"]
foi dada mais tarde ao Batalhão de
Caçadores
[ Batalhão de Caçadores Especiais
n.º 261 ]
comando pelo TCor Prego, reforçado com uma Companhia de Paras,
Artilharia e Auto-Metralhadoras, apoiado pela aviação. No entanto toda
essa força foi repelida pelo inimigo no primeiro dia
[ 10 de Setembro de 1961 ]
em que o tentaram e
com importantes baixas. Depois destas forças se reorganizarem, à segunda
tentativa, feita dias depois, estranhamente chegaram à própria Pedra
Verde, um monte rochoso coberto de vegetação, sem encontrar qualquer
resistência [ 16 de Setembro
de 1961 ]. As forças inimigas ali existentes , que segundo constou
continha elementos estrangeiros, haviam retirado e abandonado a região.
12. Segundo informações recebidas posteriormente, resultantes de
interrogatórios a prisioneiros feitos mais tarde, o inimigo, durante a
acção da 4ª CCaçEsp, havia sofrido pesadíssimas baixas, calculadas em
centenas de mortos.
Esta acção
da 4ª CCaçEsp,
que ficou por sorte
gravada, como prova, foi sem dúvida um dos mais duros combates de toda a
guerra de
Angola, senão mesmo o mais
duro: três horas e meias de fogo intenso face ao inimigo bem armado de
espingardas e metralhadoras.
(...) FOTOS "NOTÍCIA!" Reportagem com reconstituição fotográfica publicada a 19 de Agosto de 1961 no magazine "Notícia !"
Excerto do som gravado durante os violentos confrontos no decurso da operação - o intenso e dramático som de armas automáticas e de fogo "cerrado". Duração de 13 seg / 136 KBytes em formato WAV .
|
||||||||||||||||||||||||||||
|
|||||||||||||||||||||||||||||
(c) Todos os conteúdos deste site estão sob direito de autor de M. G.
Mateus e P. Mateus. A sua reprodução carece de autorização formal e
escrita dos mesmos. Online desde 25 de Dezembro de 1996 - historia@4cce.org |